Estes exemplos referem-se principalmente a campos “tradicionais” das relações diplomáticas e do direito internacional, essencialmente de natureza inter-estatal. O cenário tornou-se muito mais complexo após a II Guerra Mundial, com a criação da ONU, e nas últimas décadas, diversificado com o surgimento, multiplicação e fortalecimento de organismos internacionais intergovernamentais, mixtos ou de natureza corporativa (IATA) assim como de instâncias e foros criados para resolver controvérsias entre Estados ou entre Estados e entidades não estatais. Além disso, as pessoas, individualmente ou como membros de grupos organizados (ONGs), assumiram crescente reconhecimento como sujeitos – ainda que com configuração e capacidades distintas dos Estados – com acesso e influência sobre o desenrolar das relações internacionais.
Dentro deste quadro jurídico, a diplomacia serve-se também, como é óbvio, dos dados políticos, econômicos, sociais, culturais, técnicos e de outra natureza que dão conteúdo concreto e informam as orientações e objetivos traçados pela política externa do país que representam e cujos interesses defendem. Para tanto lançam mão de instrumentos analíticos e teóricos fornecidos por outras disciplinas, como a ciência política, as teorias sobre relações internacionais e a sociologia. Estas disciplinas formam um corpo de mecanismos de análise que, junto com os temas normativos e mesmo a filosofia e a ética, interagem e se realimentam num diálogo que “permeia todas as relações sociais”.
No mundo contemporâneo, aliás, tanto o jurista quanto o diplomata são atores que, com frequência, se defrontam com dilemas de natureza ética. O Direito deixou há muito de ser a mera expressão do poder estatal e, cada vez mais, encarna, como sempre deveria ter sido, os anseios da sociedade por relações de justiça e equidade e por um Estado que responda pelos seus acertos, erros e desvios e seja portanto controlado por instituições independentes e eficazes, como o Poder Judiciário e o Ministério Público. Também na diplomacia, que fôra o terreno por excelência da “razão de Estado”, do exercício do poder e do império do realismo que mascara o domínio do mais forte, os valores da sociedade, tanto nacional quanto internacional, se fazem cada vez mais presentes e influentes. Questões antes vistas como domínio de técnicos, como comércio internacional, meio ambiente, desarmamento e não proliferação, direitos humanos, diversidade biológica, integração regional, direitos dos povos indígenas e luta contra o racismo, suscitam debate na sociedade, nos meios de comunicação e no Congresso, e não podem deixar de ser levados em conta pelos formuladores da política externa, ou seja, o Presidente da República assessorado pelo Ministro das Relações Exteriores. A emergência do Brasil como participante destacado na tomada de decisões internacionais em poucos anos tornou a política externa um importante tema do debate político nacional.
Mais do que uma ciência, sobre cuja lógica e contornos teóricos e relações com outros ramos do saber os juristas se debruçam – sem esquecer é claro das imposições da política e da realidade - , os diplomatas tendem a ver o Direito Internacional como um instrumento de trabalho e referência fundamental para suas atividades. Utilizam-se assim com frequência, do direito vigente (lege lata), que facilita e dá segurança e previsibilidade às relações inter-estatais e ao funcionamento dos organismos internacionais e à cooperação internacional no campo multilateral.
(Extrato do editorial)

Prefácio
Gilberto Vergne Saboia
A Influência da Globalização nas Manifestações Culturais e o Diálogo Intercultural como uma Genuína Alternativa de Respeito à Diversidade e ao Multiculturalismo
Carla Ribeiro Volpini Silva
Les restitutions extraordinaires et la Convention internationale contre la torture
Isabelle Moulier
Le Système monétaire et financier et le droit international : chronique d’une crise annoncée
Jean-Marc Sorel
Les dynamiques du droit des relations économiques internationales
Jean-Marc Thouvenin
The Gilberto Amado Memorial Lecture
José Luis Jesus
El Derecho a la Educación como Derecho Humano: del Cuadro Normativo Universal a la Contribuición Regional Europea
Leonardo Pasquali
Os Fundamentos do Direito Internacional Contemporâneo: da Coexistência aos Valores Compartilhados
Liliana Lyra Jubilut
A Importância dos Tratados Bilaterais de Investimento para a Atual Posição Brasileira no Mercado Internacional
Suzana Santi Cremasco
Tiago Eler Silva