O presidente insistiu sobre a sua intenção de acabar com a crise no Timor-Leste, iniciada há um ano, após a expulsão de militares descontentes que gerou uma onda de violência que causou 30 mortes e deixou 150 mil pessoas deslocadas. "Prometo que abrirei o diálogo entre os adversários, com o Falintil - o antigo braço armado da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independiente (Fretilin) - e resolverei o caso de Alfredo Reinado", afirmou. Reinado comanda 590 militares que, junto com ele, foram expulsos das Forças Armadas do Timor-Leste em março de 2006 por suposta insubordinação, quando protagonizavam um protesto por melhoras Trabalhistas. Ramos Horta também comentou o problema gerado pelas gangues de artes marciais no país, e pediu a seus membros que acabem com a violência, já que ela "só destrói a nação".
Francisco Guterres felicitou "em nome do Parlamento nacional e em nome pessoal" Ramos Horta e desejou-lhe "o maior sucesso" : "Aspiro ardentemente a que se torne um Messias da esperança, da paz e da concórdia entre todos os cidadãos timorenses, sabendo ultrapassar, através do diálogo institucional, os eventuais conflitos que emergirem da correlação de forças partidárias", disse Guterres.
O Presidente do Parlamento recordou a nomeação pelo ex-presidente Xanana Gusmão, do 3º Governo Constitucional timorense presidido por Estanislau da Silva, que tem a missão de organizar as próximas seleições legislativas de 30 de junho, julgando preferível ter um governo efêmero do que manter em funções o anterior, que estava decapitado e, consequentemente, demitido.
Após a cerimônia de tomada de posse do novo Presidente da República, aconteceu a cerimônia das comemorações oficiais do Dia da Independência do Timor Leste, em que Ramos Horta revisou as tropas em parada - o seu primeiro ato oficial na chefia do Estado.
Infelizmente, este primeiro dia de poder do novo Presidente da República do Timor Leste foi marcado por incidentes representativos da crise actual no país. Durante as comemorações do Dia da Independência, foram duas pessoas que morreram hoje em Díli e em Bobonaro em confrontos com aparente motivação política. Passado o processo eleitoral, que foi aprovado por observadores internacionais e registou apenas incidentes isolados, o risco é grande que o clima de instabilidade volte no país.

Boaventura de Sousa Santos, Profesor de sociólogia na Universidade de Coimbra (Portugal), esta convencido que a região vai continuar a ser desestabilizada, nomeadamente devido a Austrália e a Igreja Católica.
"País vizinho e potência regional, a Austrália provocou a crise “artificialmente”, segundo ele, com o objetivo de desestabilizar um governo hostil: o do ex-premiê Mari Alkatiri, que deixou o cargo em junho do ano passado, durante a crise, para dar lugar ao próprio Ramos Horta.
Um dos fundadores da Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin), movimento de resistência contra a ocupação indonésia – encerrada em 2002 –, Alkatiri ganhou a inimizade dos australianos por sinalizar uma aproximação com a China, avalia o sociólogo, especialmente no que se refere à exploração dos principais recursos naturais do país: petróleo e gás natural.
Em artigo escrito recentemente, Boaventura dá os detalhes. O primeiro-ministro subiu de 20% para 50% a parte que caberia ao Timor dos rendimentos dos recursos naturais, procurando transformar e comercializar o gás natural a partir do país, e não da Austrália, e concedendo direitos de exploração a uma empresa chinesa. Uma postura “nacionalista” semelhante à de países como Bolívia e Venezuela, embora “menos radical”, comparou durante a entrevista.Além da questão econômica, o professor de Coimbra aponta um aspecto geopolítico no interesse da Austrália: controlar as rotas marítimas de águas profundas e travar a emergência do rival regional, a China. Dada a proximidade entre os governos de Washington e Canberra, ele vê esta disputa como sinal de uma “nova guerra fria, apenas emergente, entre os EUA e China”, da qual “o Timor é a primeira vítima”. E acha que a Austrália adota postura semelhante à dos Estados Unidos em relação à América Latina e, mais recentemente, ao Oriente Médio.
Quanto à Igreja, Boaventura explica que teve papel forte na independência, goza de grande influência na região e não vê muita graça no fato de Alkatiri ser um líder muçulmano – embora “secular”. Ele conta que, no dia da eleição, Ramos Horta apareceu para votar vestindo uma camiseta do Sagrado Coração de Jesus."
  • Ler : “Solução para o Timor ‘está longe’, avalia professor Boaventura de Sousa Santos”, por Julio Cruz Neto, Repórter da Agência Brasil